15 junho, 2011

O Vício do Sonho

Não adianta eu sonhar um sonho se este sonho não sonha comigo.

Não sei se vou conseguir explicar direito essa minha mais nova teoria, mas tentarei. Usarei o máximo possível da minha capacidade de dissertação, ainda que esta não seja lá tão grande. Mas tentarei.

Nós somos seres pensantes, certo?! A nossa mente cria coisas, cria pensamentos, cria sonhos. Logo, nós somos seres que sonham. Não quero entrar no mérito científico da questão, até porque não me acho nem um pouco capaz para tal. Porém, no meu modo de ver (melhor falar assim, para ficar bem claro), é assim: somos seres que sonham. Uns menos, outros um pouco mais, e outros exageradamente. Eu me enquadro entre os exagerados.

O problema dos exagerados é exatamente este: muitas vezes eles sonham com um sonho que não sonha com eles. E, sem perceberem isso, insistem em algo que nunca vai acontecer. Só que não é porque o sonhador fracassou na tentativa de fazer acontecer, mas porque simplesmente não é para acontecer.
Parece complicado, mas não é.

Vamos ao exemplo. Digamos que eu sempre tenha sonhado em ser escritora. Este era o objetivo da minha vida. Escrever livros e mais livros, Best-sellers atrás de Best-sellers, entrar para a Academia Brasileira de Letras... Então, passei grande parte da minha vida me esforçando, claro. Tentava criar uma história, que viria a se tornar um livro; para praticar mais ainda, criei blogs onde expressava meus pensamentos, sempre querendo fazer o melhor possível... Podemos dizer que eu até tenha conseguido publicar um livro e vendido alguns poucos exemplares. Me esforcei. Minha mente vivia em um turbilhão de novas idéias para novos livros, novos artigos, novos posts. E até que meus textos eram bons, os leitores elogiavam; meus pais, então, nem se fala. Eu sabia como colocar bem as palavras, criar as frases de forma clara, dividia bem os parágrafos... enfim, o sonho era tão grande, tão forte, que me levava a crer que, realmente, era aquilo que eu queria para minha vida. Eu sonhava um sonho.

Só que eu estava tão viciada nesse sonho, que não conseguia enxergar que, em certo momento, aquilo não ia mais para frente. Era um único livro publicado e vendido apenas para generosos familiares e amigos, que mesmo tendo gostado do que leram, não me perguntaram sobre o próximo livro. Não procuraram saber sobre o que mais eu estava escrevendo. As editoras para as quais eu enviava alguns textos, não me deram nenhuma resposta positiva. Ou seja, eu sonhava um sonho que não sonhava comigo. No fim das contas, aquilo não era para ser.

Então, tomada de uma grande decepção, de um sentimento de fracasso, eu desisti. Mergulhando em um mar de depressão, ao invés de escrever textos dissertativos, ou narrativos, seja lá o que for, eu passei a escrever poesias. Afinal, eu continuava sendo boa com as palavras. Comecei escrevendo versos tristes e melancólicos, depois passei a acrescentar pitadas de nostalgia, lembrando de quando eu comecei a aprender a tocar violão na infância, e de como aquilo me fazia bem. Aí, passei a escrever versos de superação, sobre transpor obstáculos, sobre fazer novos planos...

De repente, certo dia, eu resolvi comprar um violão e voltar a estudar música. Depois de relembrar os acordes da escala de Sol maior, peguei uma daquelas poesias que estavam bem na minha frente e comecei a colocar uma melodia nela. Gravei a música no celular e coloquei como um toque do telefone. No dia seguinte, alguém ligou pra mim enquanto estava numa fila do banco, e eu atendi normalmente, claro. Quando a ligação terminou, um senhor a minha frente comentou: “Gostei da música. Quem canta?” Despretensiosamente, eu falei que a havia feito no dia anterior. Aquele senhor continuou a conversa, se apresentou como produtor musical e demonstrou interesse em gravar minha música. Dali em diante, minha vida tomou um rumo totalmente inesperado.

Um sonho sonhou comigo e eu passei a sonhá-lo. O que era para acontecer estava acontecendo, na hora que tinha que acontecer.

E, se formos parar para analisar, eu continuava escrevendo muito bem, só que, ao invés de livros, músicas. Ou seja, eu só não havia interpretado corretamente meu antigo sonho de ser escritora.

Não quero dizer com tudo isso, que é para parar de sonhar com qualquer coisa que você esteja sonhando. Quero que você pare de pensar que fracassou, porque o seu sonho não se tornou real. Não deixe que o seu vício por este sonho te impeça de interpretá-lo da maneira como deve ser.

A ordem dos fatores, neste caso, altera o resultado: não sonhe um sonho que não sonha contigo. Espere ele sonhar contigo, aí então, você sonhará com ele, sem nem perceber.

Bem, juro que tentei explicar. Agora, se você entendeu ou não, aí são outros quinhentos.
Despeço-me.

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